segunda-feira, 18 de junho de 2012





O silêncio dos livros grita. Com a boca profunda das crianças,
a ansiedade das mães e o luxo dos incêndios. O silêncio dos
livros é suspeito, não é puro, nem respirável, nem vazio.

O silêncio dos livros pode ser um sopro, uma brisa, uma bor-
rasca. Pode ser a luz de uma célula, a seiva de uma estrela, o
grito das abelhas assassinadas pela doçura. Silêncio com guel-
ras, com rimas, com a ciência azul das primaveras que hão-de
vir.

O silêncio dos livros magoa e é feliz. Raspa, rasga, arranha, ex-
cede, excede-se, atrapalha. Mas treme, comove, perfuma, abra-
ça. O silêncio dos livros não pertence aos livros mas neles habi-
ta, e neles se excita e apavora.

Não é o silêncio dos mortos, mas dos vivos.
Um silêncio tumultuoso, que interroga, confronta, fere, identi-
fica. Silêncio purificado, inteligente, vestígio não vingativo, re-
torno da emoção. Grande cave universal que armazena tudo o
que é inovador.

Todos os dias de amanhã celebrarão o silêncio dos livros. Essa
é, mais que uma esperança, uma ideia, uma certeza funda.


JOAQUIM PESSOA - in 'ANO COMUM'

Galeria de Poesia

Sem comentários:

Enviar um comentário