sexta-feira, 6 de julho de 2012

POEMA QUADRAGÉSIMO SEXTO




Peço-te. Não pises as violetas

que trago no olhar.


Falemos dos brilhos estilhaçados

desta casa súbita que é o teu corpo

devoluto. A noite devora as palavras possíveis,

o sofrimento que pulsa em tua boca

e torna a minha boca vulnerável.

O amor é um nada que a liberta, uma luz

que desce dos ombros para o ventre

e fecunda as sementes da tua virgindade,

essa que faz agora parte de uma dor quase

amigável, na lividez do tempo,

e que entregas em minhas mãos, beijando-as,

tornando-te parte dos meus versos, da

minha forma mais profunda de gostar

de ti.

Amar-te, é escrever-te.

Amar-te é deixar que me toques até ser teu,

até que te deites no meu corpo e adormeças

inteira dentro de mim.

Peço-te. Não pises as violetas

que trago no olhar. Cheiram a ti. São para ti.

Um "bouquet" de palavras que floriram



Joaquim Pessoa
(in GUARDAR O FOGO, a publicar)

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