quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Tive um coração perdi-o




Tive um coração perdi-o
Ai quem mo dera encontrar
Preso no fundo do rio
Ou afogado no mar
*
Quem me dera ir embora
Ir embora sem voltar
A morte que me namora
Já me pode vir buscar
*
Tive um coração perdi-o
Ainda o vou encontrar
Preso no fundo do rio
Ou afogado no mar

Amália Rodrigues



XIV

Aceito
sem desdém
dualidades no olhar…

Porém;

Respeito
não tem hora.
É hora
de largar
o preconceito
e ser diferente,
respeitar agora
a toda a hora,
a toda a gente.

(Mário Cerro da Costa)

terça-feira, 10 de setembro de 2013




 SOFIA VALADARES

Palavras expressam sentimentos
de um olhar distante
sobre outras realidades.

Realidades que envolvem
e penetram a minha essência. 

Realidades ocultas,
ausentes à minha alma…
no entanto, que me pertencem interiormente
quando em cada palavra
coloco o brilho:
a chama que as faz renascer.



Tirei ar do vento
sal do mar
brilho do sol

misturei
agitei
criei sonhos virtuais
construí ilusões

caminhando cresci
sofri
amei
vivi

numa liberdade
encontrei prisão
desilusão na felicidade

resta areia entre dedos
amargura
na solidão.

Emilio Casanova, in " Na Espuma das Palavras "


Cúmplices 
quando se sente parte da alma
em conivência
sem conseguir compreender...

e há tanto tempo !

estranha-se
quanto mais se entranha
se interroga
se recolhe...

porquê… porquê...
esta busca permanente
tenta-se compreender
se conhecer...

desde a adolescência
se percebe
a constante mudança
sem definição
exceto para algo
sem conseguir entender

desconstrução torna-se necessária
na busca da compreensão do inatingível
da não resposta

e eis que surge a cumplicidade irreal
a similitude de pensamentos...
sensações...desejos...fantasias…

quanto mais se penetra no Eu
mais profunda se torna a sombra
quem somos...
donde viemos...
para onde vamos...

Emilio Casanova

NOCTURNO



Trouxe-te a noite mais uma vez amor, 
Trouxe-te a noite mais uma vez aos meus sonhos,
Trouxe-te a noite mais uma vez aos meus braços
Num tão demorado abraço com jardins de camélias
De cetim, de bocas abertas rubras e ardentes
E as pétalas todas a entornarem mel
Sobre os nossos corpos pedintes e gementes,
Perfumados com as essências mais delicadas
Do rosmaninho, das saudades e dos lírios em flor.
Só flores roxas. A minha cor. A cor da dor, da dor do amor.
Sabíamos os dois que desta vez o nosso abraço
Não queria só um abraço. E houve um beijo.
Aquele beijo demorado, sussurrado,
Quase nu de palavras, que só permitia silêncios
E olhares afundados, extasiados, ancorados
Em mares nunca antes por nós navegados.
Os meus olhos vinham-me dizendo, faz tempo,
Que ficariam cegos se não olhassem os teus olhos,
Como se fossem searas imaturas de pão
A precisarem do sol doirado e intenso do verão.
E os teus olhos eram dois sóis escaldantes
E profundos e os meus olhos, as searas verdes do trigo
A quererem ficar maduras e prontas para a ceifa.
E deixámos que eles se conhecessem, falassem,
Libertassem e gritassem uma alegria que andava contida
Até ficarem mudos de tantas verdades antes escondidas.
E, em olhares presos com amarras, num silêncio
Que dizia tudo, eles disseram a nossa verdade,
A nossa realidade. E nós dois, perdidos no tempo
Que estava a nosso favor, bebemos um do outro
Todo o néctar que estava em nós guardado
E saciámos nele toda a nossa sede de aromas puros.
Era tanta a seiva de Primaveras infinitas julgadas extintas,
Que tínhamos em nós guardadas. Os meus olhos
Entornavam lágrimas grossas de felicidade inteira
Que tu bebias até à última gota
Como se quisesses lavar as minhas feridas todas.
E continuámos abraçados e eu beijava-te,
Beijava-te, beijava-te sem parar
Os teus olhos encostados, o teu peito todo aberto para mim
E a tua boca onde a minha, ajoelhada, só queria rezar
A pedir que tudo não fosse um sonho.
Tinha medo! Medo de acordar! Tu eras para mim
O meu amor erguido das ruínas de castelos desmoronados
De onde eu milagrosamente, com vida, tinha escapado.
E sussurrava-te tantas e tantas vezes ao ouvido
Até que a tua boca caiu na minha boca a calá-la
Num beijo, agora embriagado com os matizes de sonho
De um sol de entardecer, cheio de brilhos da cor do fogo,
Meu amor, meu amor já feito flor, meu amor …
E adormecemos os dois com os braços enleados,
E adormeceu também a noite na madrugada
Que acordou com o alvoroço da Natureza a cantar,
E eu acordei com ela e vi que não estavas ali
E comecei a sangrar em prantos agudos
Que eu canto… que eu não paro de cantar para ti.
E onde estiveres, se me ouvires eu te peço,
Por favor, tira-me daqui!...

Margarida Sorri
bas




"Que a felicidade não dependa do tempo nem da paisagem,
nem da sorte, nem do dinheiro.
Que ela possa vir com toda a simplicidade de dentro para fora de cada um para todos.
Que as pessoas tenham um amor ou sintam falta de não tê-lo.
Que tenham um ideal e tenham medo de perdê-lo.
Que amem ao próximo e respeitem sua dor,
para que tenhamos certeza de que viver vale a pena."

AO VER-TE



Ao ver-te
Fiz reverso o universo todo
Apenas para que não te assustasses
Ao contemplares,
No espelho do firmamento,
A imagem invertida de tua face.

Ao ver-te,
Fiz-me aurora eclipsada do agora.
Voz vibrante que silencia ofegante.
Fiz-me flor, dor,
Pequenino ardor de anelo.
Fiz-me aveludada ternura que pouco perdura,
Mas que renasce ao ver o inflar,
De par em par,
Dos teus pulmões de amar.

Ao ver-te,
Embora bem de longe veja,
Fiz-me espera,
Esperançosa era,
Espessa ousadia de sonhar sentir-te, tocar-te,
Içar-te de ti a fartar-te de mim.

Ao ver-te, enfim,
Fiz da vida o que pude:
Solidão, ilusão, vã latitude.
Mas fiz um peito cálido e amante
Deste meu peito de tristeza rude.

Nara Rúbia Ribeiro




Que a delicadeza vença a força
E que o espanto
E o encanto nos nasçam
De cabelos soltos
Sorriso franco
E de pés descalços.

Nara Rúbia Ribeiro


Não é da luz que carecemos. Milenarmente a grande estrela iluminou a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver. O mundo necessita ser visto sob outra luz: a luz do luar, essa claridade que cai com respeito e delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres. Só a lua revela intimidade da nossa morada terrestre.
Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra.

MIA COUTO
No livro "Contos do Nascer da Terra", 2006



"Eu espero 
que a Vida te surpreenda 
e que você Não se prenda, 
Não se acanhe, 
Não duvide. 

Porque parte das coisas boas
vem das lutas,
mas a outra parte
vem sem avisar.

Eu desejo que os dias
te peguem desprevenido,
desajeitado, despreocupado.

Afinal,
o que Não foi programado
também funciona,
nem toda ação inesperada
merece ser descartada
e algo Não planejado
pode estar trazendo
sua Felicidade!"

Fernanda Gaona

Não me Peçam Razões...




Não me peçam razões, que não as tenho, 
Ou darei quantas queiram: bem sabemos...
Que razões são palavras, todas nascem 
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"








Quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiras-te no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.

In, Vai onde te leva o coração, Susanna Tamaro

EM SILÊNCIO



É no silêncio que te escuto
que te encontro e me acho
que passo de mera cinza
a rubro facho

E nessa vertigem em que me sufoco
me transmuto e desdobro
ganho a perfeita noção
que sem ti sou espuma
que sem ti sou chão

Diz-me como ter-te
ensina-me como amar-te
se querer-te é já perder-te
se ter-te é já chorar-te!

são reis
8set2013



Quem pela primeira vez visse o fogo,
Não creria que pudesse queimar –
O seu esplendor parecia um jogo
Que ante seus olhos tivesse lugar.

Mas se lhe tocasse de algum modo,
Que queimava muito iria notar:
O fogo do amor tocou-me um pouco,
Arde e bem. Deus, que em mim se vá ‘spalhar !

E por vós se espalhe, senhora minha,
Que fazeis crer que me tendes amor,
Mas só me dais dor e tormento.

Claro, Amor age de forma mesquinha;
Enquanto ele só vãs palavras for,
A mim, que o sirvo, não dá contentamento.

Giacomo da Lentino
(Sicília 1188-1240)
in Os dias do Amor

Sonho. Não Sei quem Sou





Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento, 
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" (6-1-1923)

O MEU DESEJO





Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua...
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!

Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!

Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...

Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, amor, devagarinho,
Até a Morte me levar consigo.



Florbela Espanca

O MEU IMPOSSÍVEL




*FLORBELA ESPANCA*

Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...

Instantes



Teus lábios
num fugaz instante
ficaram sagrados

intemporal momento de revelação
abriu-se
no mais profundo deste ser

labirinto profano
torrente incontrolável de emoção
sentimentos presentes

beijos que quero doces
partiram em busca dos teus
loucos...
com tua boca como direção...

e beijos ...e beijos ...e beijos...
na ansiedade da tua ausência

que busco...na tua presença ?...
conforto...paixão...sedução ?...
que busco ?...diz-me

com teu coração...

Emilio Casanova, 09/09/13

Sedosos momentos aqueles :



com os teus cabelos
com a pele dos teus seios
que anseio...
com o veludo das tuas coxas
que envolvem minha fantasia
com a maciez dos teus braços
que me magoam por ausentes,

afago teus cabelos docemente
cheiro suas fragrâncias sensuais
aperto carinhosamente
teu pescoço
colo meus lábios na tua orelha
guardo o teu sono
percorro teu corpo com minhas mãos

escrevo amor na tua pele,

sinto que estremeces
afago-te
procuro com meus lábios
e minha língua
a doçura do teu desejo.

Emilio Casanova, in " Diário para Day "





Desconexo Afago

No toque da solidão
Cercada da escuridão 
Do mundo em desalinho
Eu me perco na imensidão
Não queria estar sozinho
Desconexo afago
Que hoje trago no peito
Pra viver da luz da lua
Contra dores do amor
Nunca haverá outro jeito.

By Everson Russo