quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Amanheceste-me





Amanheceste-me nos braços da saudade
pele com pele, a tua cabeça encostada
no meu peito
Amanheceste-me no pensamento,
orgulho que nos acompanha,
por força da paixão que nos une,
malgrado esta distância que nos adia.
A ilusão da tua presença,
com a telurica força do vulcão,
despertando a vontade de união,
torna necessário o recurso à extrema- unção,
para que se liberte a tensão…
A distância que nos separa não verga,
nem diminui a força do nosso querer,
mutuo orgulho na natureza do sentimento que
nos impele para a vida um do outro
passos unidos no mesmo rumo
Amanheceste-me como vem sucedendo
frequentemente


Hamilton Afonso

Zéfiro




És a suave brisa que me chegou
Alguns a chamam de Zéfiro,
Trazendo o ar mais puro e doce.
As sementes vieram contigo.

Brotaram em extrema abundância
Mesmo no centro do meu coração,
Amor, ternura,compreensão, compaixão,
Criando raízes profundas e poderosas,
Crescendo dia após dia o amor por ti,
Os raios solares que lhe são dirigidos.

Vem a noite e traz a louca saudade
Carregada de projectos para satisfazer
O ardente desejo que existe na carne.
Noites em claro e mesmo em sonhos
Tudo vem à imaginação para se realizar.

As mãos ansiosas para te tocar a pele
Deslizando suavemente como seda.
Provocam em ti um frenesim autêntico.
A boca louca para te beijar, assim suspira
Partilhando com a língua a ansiedade
De satisfazer todos os teus desejos.

Desgovernada a mente, me entrego
de corpo e alma para o mais puro acto
Que a natureza lentamente aperfeiçoou
Para nos dar o que de melhor o corpo tem.

A chama que nos tenta aproxima do Alto
Para assim nunca esquecermos o Divino
Fazendo de nós criaturas etéreas
De energias renovantes e assíduas.
Manifestando-se em inocente amor.

J.M.²

AMOR PACÍFICO E FECUNDO





Não quero amor 
que não saiba dominar-se, 
desse, como vinho espumante, 
que parte o copo e se entorna, 
perdido num instante. 
Dá-me esse amor fresco e puro 
como a tua chuva, 
que abençoa a terra sequiosa, 
e enche as talhas do lar. 
Amor que penetre até ao centro da vida, 
e dali se estenda como seiva invisível, 
até aos ramos da árvore da existência, 
e faça nascer 
as flores e os frutos. 
Dá-me esse amor 
que conserva tranquilo o coração, 
na plenitude da paz!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

um rosto…



helena maltez

abriram-se as cortinas da cidade,
a nudez foi presença nas ruas acorrentadas.

sobraram horas geradas no ventre da noite,
e, amadureceram na encruzilhada sem nome.

espia pela fresta o frio da extinção.
toca nos dedos hirtos
inflamados,
espinhosos.

um rosto denso de raízes,
com faróis presos ao silêncio,
esmaecesse no espelho da idade.
há desejos húmidos
refletidos em sonhos seculares

soam vozes semeadas nos espaços imaturos.
amadurecem os brilhos
de um verão resistente.
é amarga a linha da verdade
e confusa a palavra ramificada.

melodias esborram no sangue que jorra
com sabor a morte certa…

o rosto desvanecesse nas cortinas renegadas!




Nada é para sempre,
Escuta o apelo do momento,

A estrada é longa,
Dos vales elevam-se montanhas,
É aqui e agora…
Que a escalada se inicia,
Num passo em cada dia,

No cume supino,
A águia grita ao vento,
Liberta-se de suas penas,
Que nos vestem de asas,
E-levando-nos ao alto
Onde nos pertencemos…

Levanta-te meu amor,
Sigamos o rasto do sopro do vento,
Não olhemos para trás,
A estrada está fechada,
As vertentes do céu,
A-clamam por nossos passos…

Levanta-te meu amor,
Esqueçamos o cansaço detrás,
É aqui e agora…
No topo da montanha,
Que o grito da águia nos aguarda!

[ Olhar para trás… é perder o momento]

C.C.

SEM MÉTRICA NEM PRECISÃO




Faço poemas, com os meus dedos, no teu colo de marfim.
Reinvento-te, docemente, para saborear cada silaba, cada verso, cada estrofe, sem métrica nem precisão…
Volto e ler-te
e apago, suavemente, as palavras que te acendem, no corpo, a paixão.
e que te prendem a mim…

O poema fica lá, gravado,
meio escrito
meio apagado
meio dito
meio sussurrado…

Esqueço o poema,
na loucura do abraço
e escrevo, a fogo, a palavra, amor,
no teu corpo que já dorme, cansado…

Magnólia
 

POESIA...




CECÍLIA VILAS BOAS, in ÂMBAR E MEL (Chiado Ed, 2011)



Caminha comigo, de mãos dadas
pela estrada sinuosa da vida
caminha comigo, lado a lado
no inconformado rio que chora
ao luar, podemos dançar

a dança da poesia
suavemente iludida
perfeitamente desnudada
vem, em passos lentos
suaves plumas envolventes
numa carícia só tua
num beijo infindável
nesta eloquência desmedida
no silêncio das palavras
no vibrar dos sentimentos
estás tu, poesia
ilusões que encantam,
que me fazem sonhar
estarei em teus braços
em perfeito jubilar.





MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, in POESIA REUNIDA

Toca-me onde me dói e verás
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta


é a tua vez de o desvendares -
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me

por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobre a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo

pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem

cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido

de uma aldeia. Não adivinhes -
lá, onde me doer, vou recordar-me.

O PALÁCIO DA VENTURA





ANTERO DE QUENTAL, SONETOS


Sonho que sou um cavaleiro andante. 
Por desertos, por sóis, por noite escura, 

Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais! 




Também as pedras que piso
brilham à luz da lua
quando visitadas
pelas águas da chuva...
na mais triste escuridão
nossa alma ilumina-se
quando acordada
pelas palavras sensíveis
de sua irmã gémea
deixa correr o tempo
florir os campos
semear o trigo no outono
colher os frutos de verão
enfim
chegar a primavera
para colher os sonhos
do meu coração...
emilio casanova

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Cântico IX





carinho meu
procuro teus olhos
em novas matrizes
mas eles
não olham para mim
escondem-se
será timidez
nada receiem
carinho meu
só quero
navegar neles
descobrir novos mundos
que pressinto
existem em ti
carinho meu
deixa dobrar o cabo
avistar tua terra
quente
mergulhar
em tuas correntes
carinho meu
abre tuas portas
de mansinho
prometo
tratar tua alma
com desvelo
carinho meu
desfraldei as velas
navego em ondas
claras
sem tormentas
com muito sol
ventos de feição
carinho meu
só preciso
que abras teu
coração
emilio casanova, in "Dos Cânticos", (IX)

      The Impressionists: Renoir, Manet, Cezanne, Degas and Monet







                    Pierre Auguste Renoir - Virtual gallery







O que te dou é um retorno de que recebo :
dá e recebe : recebe e dá...Nesta comunhão do prazer de dar... amor ...magia...afeto...para receber amor ...magia...afeto...


~a felicidade é como a borboleta, só poisa no ombro de quem ela quer~

Magnólia



Levo tua mão na minha mão...
num labirinto coberto de verdes
flores de algodão...
são doces...esses instantes 
que perduram na minha imaginação...


Emilio Casanova




Se ainda musas houvesse
voaria entre os olhos
das estrelas
procurando nas sombras
teus cabelos
para neles adormecer
sorrindo
no teu colo de mulher.
Ao acordar
vens comigo,
levo tua mão na minha mão
num labirinto coberto de verdes
flores de algodão.
Como são doces...esses instantes
que perduram na imaginação...
emílio casanova, 13/12/12, Rio.




Penso nas cortinas do teu quarto
como elas ondulam
perante a visão do teu corpo
quando te desnudas
ao sol nascente.
Brilha o negro do teu sexo
no raio solar que elas deixaram passar
atrevidas por doce brisa movidas
teus mamilos duros arrepiam.
Nas curvas alvas do teu corpo
elas e o sol marcam sombras
de rendas que fazem lembrar
tatuagens.
Como és linda enrolada nas cortinas
dos raios do sol.
Como és bela marcada pelos dedos
da pintora natureza
que te marcou tatuagens de beleza.
Emilio Casanova

Princesa





Sei que tens nobreza em ti 
não porque te conheça
até nunca te vi
pelo que escreves

pelo que sai da mente
através dos teus dedos
te reconheci nobre
inteligente capaz
muito mais que muita gente
que se faz importante
tens a aristocracia no porte
modelas no corpo teu gosto
és uma princesa de hoje
na pele marcas teu reino
nos cabelos teus anseios
de cavalgar o sonho
tens poder no olhar
firmeza no querer
serias minha rainha 
para todo o sempre
minha mulher...

joaquim vairinhos, in " Coisas do Coração", publicado em dezembro de 2011.



não sei
estou inquieto
não consigo explicar
porquê
atormento-me
sinto-me frágil

e fico quieto

foi como um cristal
que quebrou
e que resultou
dum pequeno gesto
dumas palavras talvez

sei que me afastou
quando senti que não tinhas confiança em mim

agora
tudo mudou
já nada é igual
meu pensamento voa
e não encontra esse sentimento lindo que nos uniu
nos encontrou

será o amor tão sensível que quebra
assim

para onde vou não sei
sei sinto intuiu
que tudo acabou
sem bem saber porquê
mas já não te vejo
como te via antes de sentir
quebrar a sintonia
que existia
entre nós

interrogo-me agora
será que te amei alguma vez
terás sido porventura
a andorinha que não fez
a primavera do nosso
encantamento

que estranho sentimento
este do amor
que mais do que tudo
tem que ser tratado
como uma flor

respeitado
responsabilizado
partilhado na confiança
na transparência
para que se perpetue
e não termine em dor

será utopia
sonharmos com o amor
feito de magia

será que existe
ou simplesmente
persiste
em nosso querer
de humana fatalidade
a felicidade de o querer
ter

emilio casanova, in "Só & Cia"




Que me perdem em agonia
de não te ter

não sei se te quero
se te odeio por saber
que esperas
palavras minhas que não direi
porque prevejo e sei
que nosso encontro terá um fim
começado no início

foi sempre assim
tudo o que começa acaba
em fim
para ti para todos para mim

triste história esta que não
pode começar
sabemos que vai acabar
só não entendemos como vai ser

ficamos sempre com mágoas
sempre a perder para ganhar
vontade de voltar
tentar mesmo sabendo
como tudo vai acabar

recomeçar
é a vida a ensinar
nós sempre a não aprender
para viver

decidi : vou te ver

emilio casanova, in "Só & Cia"






Nessa vertigem do teu olhar
em mundo espiral
desintegrei 
qual búzio encostado
ouvindo o mar.

Sintonia de caleidoscópio
formas luz e cor em simetria
asas de mariposas
pétalas e corolas
dançando ao som
do murmúrio
das cristas onduladas brancas
saltitando no mar verde de azul
mescla primordial nos ais
suor e sal.

Tudo mais
que a imaginação
reconstrói
nos humanos impulsos de amar
renasce
no sabor de um olhar.

joaquim vairinhos, in "Amor profano de Maria"




CASIMIRO DE BRITO, in LIVRO DAS QUEDAS

91

Colho a paciência do velho pescador.

Horas e horas curvado na sua linha, o braço
flexível, o dorso visitado
pelas mãos da brisa. Aroma de sal
no rosto. Amigo dos peixes
o que retira da água são algas,
limos. Teço uma coroa de palavras
para a sua cabeça calcinada. Uma gaivota
pousa a seu lado - comovida
com a paciência do homem. Colho-a
bem colhida, nestas horas que passei,
curvado noutra linha,
a vê-lo pescar.

POEMA QUADRAGÉSIMO SEXTO


JOAQUIM PESSOA, in GUARDAR O FOGO (livro a publicar)




Peço-te. Não pises as violetas
que trago no olhar.

Falemos dos brilhos estilhaçados
desta casa súbita que é o teu corpo
devoluto. A noite devora as palavras possíveis,
o sofrimento que pulsa em tua boca
e torna a minha boca vulnerável.
O amor é um nada que a liberta, uma luz
que desce dos ombros para o ventre
e fecunda as sementes da tua virgindade,
essa que faz agora parte de uma dor quase
amigável, na lividez do tempo,
e que entregas em minhas mãos, beijando-as,
tornando-te parte dos meus versos, da
minha forma mais profunda de gostar
de ti.

Amar-te, é escrever-te.
Amar-te é deixar que me toques até ser teu,
até que te deites no meu corpo e adormeças
inteira dentro de mim.


Improvisei uma dança
Sem passos, apenas lembranças
Em versos... rascunhadas poesias
Somente toque de dedos e sensualidade
Será que a natureza te faça sorrir?

Inspirei-me num azul para te falar
mas não é o azul que me inspira
É a delícia embriagadora da tua magia...

NRAmorim



Assim te desejo...
em ti deixo as minhas carícias
nas horas de silêncio à sombra tua
minha boca a minha fonte
é o meu sussurro mansinho

desejando a boca tua

Assim te desejo...
mesmo que teu coração
já tenha tomado outro sentido
por tudo que te amo esqueço
o exaspero da lágrima
deixo o desejo da paixão livre e nua
para te amar no clarão da branca lua...

NRAmorim



Disperso em momentos
deflagro silêncio!
forçosamente me calo
respiro um recanto momento
recrio lembranças de um ninho

quando levei-te na memória
para aquele caminho...
ficando por esperar o doce beijo
imerso em horas que ressoa carinho
respiro no inverso... confesso
ouso dizer-te que és em sonho
meu desejo o enlace perfeito
por clarear os reversos do caminho
quando diz estar sozinho
revestirei meus encantos em sereia
na arrebentação do teu mar
te beijar na fina areia...

NRAmorim




Ultrapasso fronteiras, mares e desertos, insanamente entro no espaço-tempo e consumo a essência do perfume das últimas flores. Caminho despido de mim como uma escultura fria porque deixei nos esteiros do teu corpo o sentido do tempo; sinto ainda nos pés a areia doída e guardo nas mãos a poeira fina da tua silhueta. Serão sempre tuas as palavras que não escrevo contrariando a erosão dos dias e a solidão das noites. Sabes, adivinho-te os gritos surdos e o verbo imperfeito que acontece na tua cama onde há um oásis por nascer. Sente-se o desassossego por detrás do pano branco que cobre a janela na manhã que se reinicia ciclicamente no apagar das luzes. Recuso-me olhar e mordo as palavras à saída dos lábios. Caminho despido de mim mas aguardo-te na próxima rua.

 francisco valverde arsénio
 




procurei nas duas mil
e não sei quantas fotos
teus olhos...
queria ver o que eles me diriam...
já que tua alma
guardou minhas palavras sentidas...
rebusquei...rebusquei ...
não encontrei fotos novas...
voltei a fixar-me
nas que já vi tantas
e tantas vezes...sempre
com emoção
de um primeiro encontro
procurei teu rosto
como consolação
guardei esta que minha
imaginação formatou
como teu rosto...
emilio



Tenho fome de 
tua boca, 
de tua voz, teus cabelos 
e pelas ruas vou sem me nutrir, calado, 
não me sustenta o pão, 
a aurora me desconcerta,
procuro o líquido som de teus pés pelo dia.
.
Faminto estou de teu sorriso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer tua pele como intacta amêndoa. "
.
Pablo Neruda

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

DIA 196


JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM




O que leva um homem a mudar?
Talvez os erros, talvez a paixão, talvez a sombra do cansaço. Pego na tua mão e beijo-a. Pego na tua mão e danço. Pego na tua mão e apresso o movimento da terra à volta de 
nós dois. Pegar na tua mão é viver de novo a vida de uma forma inteira. Hoje, só o meu coração sabe dançar. A tua outra mão segura-o, partilha-o, é testemunha desta forma de alegria.
Escuta esta música que a noite sorri. Sente como, através dela, se excitam já os tímbalos, se apaixonam as cordas, como exulta o oboé. É uma música magnífica que se alimenta da luz, incandescendo as emoções. Pensamentos, desejos, nervos, tudo gritando por dentro. Não sinto o teu corpo, não sinto o meu corpo, tudo é transparência, tudo é fantasia, e assim são as palavras.
Movo-me contigo respirando o segredo nocturno dos desertos. Não tenho idéias, nem casa, nem sei adormecer.
Inspiro-te. Respiro-te. O cansaço é doce, estupendo, para sempre. À nossa volta tudo arde no fogo verde desta primavera, e a inquietação é um fruto excitante por colher. Não páres.
Continua a dançar comigo. Como se fizéssemos amor.