terça-feira, 11 de setembro de 2012

QUANDO TE AMO




são reis

És fogo e mar em movimento
és a minha súplica
o meu desvairio
o meu tormento
o rio em que me quero ser foz

e és canção
e és poema
qual ardina
levando em surdina
os ecos da nossa voz

e quando em silêncio
nós nos amamos
não somos nós quem gememos
não somos nós quem cantamos

são os nossos corpos ciganos
que ondulam insanos
ao sabor da paixão

São as nossas bocas gulosas
que gemem melosas
de saudade uma da outra

São os nossos olhos dengosos
que gizelam sorrisos
e se perdem chorosos
em carinhos e em juízos
daquilo que vêem

São as nossas peles que sorriem
e pedem que as aliviem
do suor que delas escorre

É o nosso peito que morre
de encontro ao outro
como se o outro fosse seu

é o meu ventre que se oferece ao teu
o meu seio nú que delicamente
te toca a coxa
quando te beija em desalinho

é o frémito do teu queixume
que amordaça o meu
é aquela sensação de plenitude
de êxtase conseguido
quando o teu gemido
atinge o auge

E é aquele remanso extenuado
que se segue depois
de quem se dá as mãos e olha
com carinho para o outro
que de cansado
sossega a teu lado..adormecido!...


... o oleiro ...

Pablo Neruda

"... como é que imaginas ? eu imagino muito... e sonho muito, mas tenho a certeza que o facto de poder tocar ( apetece-me tanto tocar-te a face ), pode olhar-te, poder sentir o teu toque, seria sempre superio
r ao que eu sonho ou imagino...fazer-te sentir o meu toque, passar as mãos por ti qual oleiro, sentir que havia em todo o teu corpo uma taça ou doçura a mim destinada..."


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Há em todo o teu corpo
uma taça ou doçura a mim destinada.

Quando levanto a mão
encontro em cada lugar uma pomba
que andava à minha procura, como
se te houvessem, meu amor, feito de argila
para as minhas mãos de oleiro.

Os teus joelhos, os teus seios,
a tua cintura,
faltam em mim como no côncavo
duma terra sedenta
a que retiraram
uma forma,
e, juntos,
estamos completos como um só rio,
como um só areal.

Sedução



Olho-te…
Lentamente entro no quarto, 
fecho a porta, 
apenas uma vela acesa com aroma de mar.
No ar uma música calma…
Olhas-me com paixão,
sinto-a nos teus olhos,
na tua boca,
no arrepiado da tua pele.
A magia solta-se…
E eu,
danço para ti.
Em movimentos sensuais,
seduzo-te…
Com suavidade a roupa vai caindo.
Na curta distância que nos separa,
vejo-te semi-nu,
no teu peito vejo as batidas do teu coração.
Aproximo-me…
Acolhes-me em teus braços,
teu corpo em brasa, incendeia-me.
Teu beijo não esconde mais as tuas vontades…
Sedutora?
Não… Seduzida.
O desejo de te querer apoderou-se de mim.
A forma suave com que me tocas a pele,
a sensação com que as tuas mãos me desenham o corpo é….
É indiscritível.
Tuas mãos esculpiram-me o rosto,
tua boca…
Pinta em meu corpo a paixão.
Teus dedos perdem-se no meu templo sagrado.
Neste momento o mundo pára,
pintas meu ser…
Num quarto… Uma vela acesa…
Onde a música toca ao som dos nossos corpos.

Espírito Cintilante

Um Livro com Nosso Amor




Chorei de dor, 
no desejo de ter teu corpo abraçado ao meu.
És minha vida, meu ar...
Escrevi-te cartas ...
Cartas que não recebeste
Hoje as publiquei num livro escrito com amor.
Todos os dias o leio
fiz dele um simbolo da nossa força,
utilizei as folhas do livro da minha alma,
escrevi-as com lágrimas que corriam em meu rosto.
desenhei as palavras com pena de ternura,
deixei escrito o quanto nos amamos.
criei-o com paixão,
Com a força e a esperança da nossa vida.
Fi-lo em teu nome,
pois tu és o complemento de Mim

Amo-te amor,
Amo-te vida...
Amo-te porque sei,
que me amas com a mesma intensidade com que o sol namora a lua.
Embora distantes,
Amam-se ...

Espirito Cintilante

Enamorada de sonhos





Enlaço frases poéticas 
escritas quase sem pensar 
vogo nas asas do vento
quando fixo o teu olhar

Se amar assim for pecado
receio estar já condenada
Só de olhar a tua boca
já me sinto a ser beijada

Não te vou falar dos sonhos
que tenho quando adormeço
são tão loucos de ousados
que até eu mesma estremeço

De quando estivermos juntos
e numa casa ao pé do mar
fazer-mos amor na praia
desde a noite ao sol raiar

Catarina Bastos


Searas de trigo maduro
que o sol beija com fulgor
refletem brilhando nelas
deixando rastos de estrelas
os olhos do meu amor

Tem magia aquele olhar
encanta mais do que deve
sereia de um cantar cativo
semi breves e colcheias
num cantar sereno e leve

Trago o brilho do seu olhar
no meu coração gravado
para me lembrar num sorriso
cem saudades tão sentidas
de um paraíso tão esperado

Catarina Bastos

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

NOITE DOS “CAPITÃES DA AREIA”





JORGE AMADO

A cidade dormiu cedo.
A lua ilumina o céu, vem a voz de um negro do mar em frente.
Canta a amargura da sua vida desde que a amada se foi.
No trapiche as crianças já dormem.

A paz da noite envolve os esposos.
O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a morte está próxima.
Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor.
Mas no coração dos dois meninos não há nenhum medo.
Somente paz, a paz da noite da Bahia.

Então a luz da lua se estendeu sobre todos,
as estrelas brilharam ainda mais no céu,
o mar ficou de todo manso
(talvez que Iemanjá tivesse vindo também a ouvir música)
e a cidade era como que um grande carrossel
onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia.

Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos,
soltando palavrões e fumando pontas de cigarro,
eram, em verdade, os donos da cidade,
os que a conheciam totalmente,
os que totalmente a amavam,
os seus poetas.

O Apaixonado




Jorge Luís Borges

Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dürer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.

Fingir que no passado aconteceram
Persópolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.

Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.

Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.

DESEJO



Maria Teresa Horta

Descontrolo devagar
sobre o teu corpo,
os lábios de súbito desmanchados

e as mãos não cedem
nos teus ombros
... à sede de ter-te nos meus braços

Mas se desfeito
descubro nos lençóis
um suor curvado amachucado

Vou-te mordendo - voraz
numa doença
bebendo em delírio o que me fazes.

Tango Argentino






Hei-de inventar
uma forma de te chamar

que não seja apenas,
Amada -Amor
Adorada
ou
Querida,

Que contenha esses sentidos e também a emoção da paixão,
esse sentimento que pouco e pouco,
subtilmente insinuaste em mim de forma imparável,
esse romance que estás escrevendo ma minha alma,
esse brincar do teu olhar ardendo no meu peito,
essa estranha forma de seres e de não seres,

como um fogo ardendo,
um vulcão esplodindo,
uma saudade inquieta que não sei explicar...

Meu amor! meu amor!
eu não tenho a certeza
se tu és a alegria ou se és a tristeza!

Sei da beleza
que incendeia de festa os meus sentidos

És o meu
Tango argentino
misterioso e ousado
bailado
pelas noites que
o oceano recusa,

És a minha
Musa!

__Luíza Caetano
 

Dia 141



O ouro miúdo, o ouro moído, o ouro. Vocábulo de sacrifícios,
touro ajoelhado sobre a indiferença, emocionado como a luz
do outono. Palavra intensa, imensa e pequenina. Dela nasce a
brisa da manhã e a paz doméstica que se espalha no
s homens
e nos pássaros.
Ouro que se cava nas grutas do amor, que se recolhe dos rios
que correm pelo leito da paixão e que se morde nas palavras
decisivas.
O meu corpo é de ouro, o teu corpo é de ouro, os nossos ges-
tos são de ouro. Ouro miúdo. Ouro moído. Ouro, simplesmen-
te. Mas apenas quando a carne é uma surpresa, quando a re-
putação de todos os nossos minutos é a coisa mais importan-
te que soubemos amealhar.
Esse ouro é o do homem apaixonado, dos hóspedes fatigados
que acolhemos no coração, daqueles que regressam a uma ca-
sa que não têm. Esse ouro é o das mãos partilhadas, das mãos
dos poetas, dos visitantes da amizade, dos que ainda sorriem
mesmo que apenas lhes sobre uma estreita realidade para acre-
ditar no milagre.
Ouro miúdo das grandezas do carácter, ouro moído pelas pala-
vras justamente divididas, ouro da liberdade que recolhemos
de cada um dos dias sombrios através da alquimia que trans-
forma também velhos pássaros em estrelas e novos pensamen-
tos em folhas de papel: o livro aberto das nossas janelas fecha-
das.
___Joaquim Pessoa

in: ANO COMUM



...o tempo é simples demais,
seu sinal derradeiro é o silêncio.
Poucos percebem, com sabedoria,
que o tempo retorna...
só pra mostrar que o perdemos
e o que perdemos.
___Ignez Furiati



Deixa lembrar-me de ti
com o olhar de quem desenhou,
traço a traço, na tua pele nua,
suaves barcos a vela 
navegando em vagas 
de desejo e loucura, 
quando de mim te afastavas
e eu de novo te prendia.

Deixa lembrar-me de ti
bordando sonhos
e inaugurando ventos
enfeitados de algas e sargaços,
atravessando pontes,
remando contra o tempo,
lançando âncoras no meu cais
a despeito do teu medo.

Deixa lembrar-me de ti
dos tempos em que a felicidade
azulava os nossos dias.
Tanto te quis vindo pra mim...
E agora, sozinha, serpenteio
meus desejos em curvas sinuosas
precocemente amarelecidas.
__Denise Fontes

Soneto 13




Adoro esse teu ar quando me tocas.
Começas por ficar transfigurada
para, depois de unir as nossas bocas,
te tornares uma fera não domada.

Mordes-me o peito, os ombros, o pescoço.
As tuas coxas nas minhas são abraço
tão forte e perigoso que não posso
responder a seguir pelo que faço.

Enlouqueço. Também sou uma fera
há dias sem comer, à tua espera
pra poder devorar-te e saciar-me.

A luta assim é própria de quem ama.
Se eu tiver de morrer, seja na cama
a vir-me nos teus braços e a passar-me.

__Joaquim Pessoa
in "Sonetos Eróticos&Irónicos&Sarcásticos
& Satíricos&de Amor&Desamor&de Bem&
de Maldizer"

Crepúsculo




Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes 
Batendo as asas leves, irisadas, 
Poisam nos meus, suaves e cansadas 
Como em dois lírios roxos e dolentes... 

E os lírios fecham... Meu Amor, não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E as minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes...

O Silêncio abre as mãos... entorna rosas...
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando...

E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha
Um coração ardente palpitando...

___Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade" 

SILÊNCIO DO SER...





"Fecho os meus olhos,

respiro profundamente,
esvazio-me de tudo...
Escuto meu coração,

sinto o meu sangue
pulsando nas veias...
Entro dentro de mim,
no Silêncio mais profundo,
na Imensidão do meu Ser...
Vejo-me tão distante,
de tudo que já vivi,
e conheço-me mais...
Vejo enfim a Realidade,
o Amor Incondicional Divino
que me toma e transborda...
Amo como ama o Amor,
na Verdade Plena do Criador,
que vive dentro e fora de mim..."


SONETO AOS MEUS DIAS..




"Eis que sozinha me ponho a pensar,
em como seria bom uma companhia.
Que não me prenda e não me julgue,
mas que fique comigo até o Novo Dia.

Quisera eu poder adormecer,
olhando um alguém ao meu lado.
Mas se isso por fim não acontecer,
me contento com o Amor do Amado.

Meu coração está cheio desse Amor.
Um Amor Imenso, Verdadeiro e Único,
que pra entender, só quem sabe o Valor.

Sigo meus dias, sonhando e vivendo.
Quem sabe, com a chegada das flores,
este alguém também venha correndo..."