As palavras do poeta volteiam incessantemente em redor das portas do paraíso e batem implorando a imortalidade. Um grão de poesia basta para perfumar todo um século! O poema é o dedo do poeta apontando para o vôo do pássaro que está além das suas palavras.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
AMOR QUE NÃO AMOR
Dança-me nas mãos, toda a quietude adormecida, dos teus olhos de menina assustada, como se tivesses medo, que o tempo, de que tens saudades, voltasse para trás e te trouxesse as mágoas, que há muito fingiste ter esquecido.
Mas hoje, é domingo na tua alma e toda a tua essência fibra de uma felicidade fingida mas que aos olhos dos outros, parece tão verdadeira e transparente, como as lágrimas que não choras. Não por vergonha, mas por valentia.
Apertas uma mão na outra, numa ânsia tão grande, que quase se ouve, apesar de dentro de ti, reinar um silêncio sepulcral.
Por que não choras?
Se chorasses, talvez afogasses essas dor e emergisses, renascida das coisas que te cravaram no peito…
Baixas os olhos, emudeces e pareces ignorar-me, porque as coisas que te digo, te magoam.
Resolvo dar-te tréguas e fingir que nada aconteceu, que nada nos separa a não ser o silêncio que constantemente brota, espontaneamente, das nossas palavras.
Deitas finalmente os teus olhos nos meus, como que pedindo desculpa…ou ajuda.
Hoje, não consigo decifrar os teus olhos.
Olho-te e vejo uma estranha…
Olhas-me e nem sequer me vês…
Para quê teimar, em fazer esta caminhada?
Este, é um caminho sem regresso.
Eu sei.
Tu sabes.
Ambos, fingimos não saber…
Desajeitado e com as palavras a secarem-me na garganta, olho-te submisso, porque não consigo dizer a palavra, fim.
Todas as relações terminam, sempre o dissemos, quando ainda havia alguma coisa para falarmos um ao outro, quando ainda nos parecia que tudo era eterno.
Mas como pode o amor ser eterno, se não é amor?
Como pode um amor frágil e perene, sobreviver à inquietação com que pintas os teus dias?
Rendemo-nos, finalmente, um ao outro. Não temos coragem para o que a vida nos apresenta.
Voltamos à nossa mudez, ao nosso vazio e deitamo-nos numa cama que já foi nossa.
Hoje, não é mais.
Esta cama, hoje, é destas duas pessoas que se recusam a enfrentar a solidão e que resolvem, não por amor mas por medo, continuar amarrados a um silêncio, que a boca cala, mas que os olhos não negam.
A Luz (Magnólia)
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