domingo, 26 de maio de 2013



Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluír de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir,

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas como o pensar te pudesses partir.

António Gedeão

Inclassificável… Indefinível





Amar-te-ia até os confins da sede e da fome d’esse amor inclassificável que me consome os dias em noites estreladas...

Amei-te no brilho das fases da lua que no firmamento...ainda derrama em charcos o meu desejo...

Amo-te no vagar das horas que se chocam como cometas...estilhaçando porções que de mim desconheço...

Indefinível é a dúvida e o vazio que ventam no íntimo recolhimento...

Frémito a alma por ter sido a sua pele...minhas vestes...

Exposta tristeza em carne viva...da nua ausência...
Sangra...
Percorro esse infinito que me distancia e me aproxima na velocidade da luz...e tudo não passa de um leve piscar...de olhos...

(Valéria Cruz)

Frio com calor





Não existe frio nem chão
Que faça tremer ou arrefeça
O calor de um grande amor
Quando se entrelaçam e fundem 
dois corpos nus com paixão

Catarina Pinto Bastos

''Palavra que desnudo''



Mia Couto

Entre a asa e o voo
nos trocámos
como a doçura e o fruto
nos unimos
num mesmo corpo de cinza
nos consumimos
e por isso
quando te recordo
percorro a imperceptível
fronteira do meu corpo
e sangro
nos teus flancos doloridos
Tu és o encoberto lado
da palavra que desnudo

Porque tudo é Poesia


BOA NOITE MEU AMOR



“Boa noite meu amor”…
Disseste-me tu baixinho,
Quando há dias á noitinha…
Me puxaste devagarinho…
E me colaste ao teu corpo…
Nesse teu jeito disfarçado…
E perfumado de tanto carinho!...

Estavas a dormir…
Ou estavas acordado?
Quando com esse teu jeitinho,
De amante apaixonado…
Pelo teu corpo de mansinho,
Minha mão levaste com carinho…
E sem vergonha nem pudor,
Me mostraste esse desejo…
De comigo…Fazer amor!...

Sabes amor…
Não sei nem quero saber…
Se estavas a dormir ou acordado,
Porque esses minutos de prazer,
Me iluminam o rosto e o corpo,
E não me deixam esquecer…
De quando me amas com gosto!...

E, se alguém um dia te disser,
Que amar assim é pecado…
Diz apenas que esta mulher,
Quer sejas tu de entre todos…
O homem mais amado…
Ou então…Nem respondas sequer!...

Agora…
Nestas noites de luar tão brilhante,
Não consigo deixar de sonhar…
Com os minutos…Em que somos amantes!...

Maria José Roberto


Como eu preciso de ti
aqui neste entardecer,
nas margens de cá do sonho
onde o sol não é risonho
e o fogo não quer arder.

Eu quero ser a urgência 
emergente dos teus sonhos.

(Rui Tojeira)



Como ser feliz ?
Dilema da humanidade.
Busca sem fim,
divino desejo
mantido por séculos
em folhas sagradas,
onde palavras
constroem metáforas
de poesia
que dança em saias
de estrelas,
se mira num espelho
de mármore,
se enlaça na magia
dum luar de abril,
se abre cada primavera
em cheiros e cores mil.
Como ser feliz
na humanidade
com sementes de infelicidade ?!
Natureza em cenário
para turista usar
não tem vida com certeza!
Todo ser tem
o querer bem viver
na paz da beleza, dum mundo
irreal. Como sobreviver
na selva em tons de cinzento,
se as páginas da poesia,
dos cânticos,
foi coberta de cimentos ?
Como construir o sonho em verde
se arco íris
navega ainda em barca,
sem fé nem crença ?
Olhar alto bem longe,
guardar-se no silêncio
da simplicidade,
viver com menos,
buscar sabedoria na serenidade ?
Será uma via...

Emilio Casanova



Curvas envolvem
instantes,
panos de linhas
escurecidas,
de bom traço,
não escondem
belezas brilhantes
são como disfarces,
de borboletas,
enaltecem o belo,
atraindo
sempre com prazer.
É assim corpo dela,
mulher inteligente
e bela,
quando se mostra
ao sol do verão,
ou, ao olhar singular
de seu amante.

emilio casanova, in "15 Poemas para Ti"

Espero por ti



Preparei-me para ti
Com a cor azul do mar
Com alfazema e jasmim
Perfume que paira no ar

Não adornei meu cabelo
Que gostas de acariciar
De desfazê-lo num novelo
Para o voltares a alisar

Não usei nenhum batom
Nem tal para isso desejo
Quero-me para ti natural
Da minha pele o seu tom

Nos olhos um louco anseio
Braços de abraços sem fim
Boca sedenta de um beijo
Meu amor espera por ti

© Catarina Pinto Bastos

Quero-te ser e ter




Quero ser em tua vida 
Um Amor constante
Que mesmo estando distante
Possas sentir a minha presença...
Que nada tire de ti a certeza

Que neste amor há toda uma beleza

Que o faz ser por toda a vida...
Quero ser teu sorriso mais bonito
O teu chão, pão, céu, e infinito
Tu és meu lado sem defeito

O meu mundo de Paz
Num mundo (in)perfeito...
A mais bela flor do meu jardim
De um inigualável colorido
Cheiro suave de jasmim
Meu perfume preferido...
Tu és o meu raio de sol
Meu raio de luar, minha luz
Que me aquece, ilumina e conduz...

Tu és tanto que não me canso
De buscar algo para comparar
Mas tudo fica tão pequeno
Quando tento explicar
O teu jeito doce de amar...

E tudo o que eu mais preciso
É ver sempre o teu sorriso
Cada vez que por ti eu chamo
E ouvir tu dizeres sussurrando
Minha vida…como eu te amo…


© Catarina Pinto Bastos.

DEIXA-TE SENTIR



Deixa sentir e impregnar-se em ti 
o aroma e a eterna magia, do orvalho 
acabado de cair, ao penetrar na terra 
antes sequiosa, agora de novo molhada

É o cheiro fresco de uma vida renovada
que se sente agora querida e saciada.
Tal como o abraço que eu te dou
depois de uma ausência prolongada

Tem acrescido o sabor de uma espera
ansiada, do encontro, depois uma longa
e árdua jornada é hora de festejar feliz
a sua chegada, plena de seiva inundada

Esperando agora apenas que a semeies
novamente para ser de novo fecundada
renascida, e de cultivo farto abençoada

© Catarina Pinto Bastos.



Abraço-te sempre 
…que tu precisares

Um abraço só tem sentido, 
Quando é compartilhado
Doado e consentido com 
O coração acompanhá-lo.

Um abraço só é sentido,
Quando quem o dá entrega
O afecto que é pretendido
Pra acompanhar quem o leva

Um abraço sem nenhum sentido
É o abraço de circunstância
Por obrigação para quem é cedido,
Não deixa nenhuma lembrança

Sem um dia pré-concebido
Para abraçar quem o precisa
Dou o meu abraço des-medido
A quem dele necessita.

© Catarina Pinto Bastos

Pensamentos no vento




O meu pensamento 
voa com o vento
respirando atento
todo o seu alento

E os sonhos são leves
como bolas de sabão
que se desfazem…
ao mínimo senão

Vá-se lá querer saber a razão.
Se uns hoje se vão…
amanhã…porcerto
outros novos nascerão

Nunca percas a tua razão
mantém acesa a esperança
na palma de tua mão
E amor no coração

© Catarina Pinto Bastos



Frio com calor

Não existe frio nem chão
Que faça tremer ou arrefeça
O calor de um grande amor
Quando se entrelaçam e fundem 
dois corpos nus com paixão

Catarina Pinto Bastos



Não me tires o Sol...
Nunca me deixes só...
Vivo suspensa de ti
e sinto-me fugir do teu caminho,
numa nuvem de pó... 

Dá-me a tua mão, ó Meu Amor...
É tão segura a mão que nos detém
É tão claro o Sol onde nasceste
É tão distante o porto onde me guias
que eu
não sei viver
nesta agonia de te sentir fugir
sem conseguir
ontem e hoje
sei lá
todos os dias
suster teus passos
e prender-te todo
no fogo dos meus braços!



(Maria Helena Amaro)
Concurso Pedro Homem de Melo
Fevereiro de 1968.



A verdade que me escondes...
Ou o Amor que em ti trazes....

Que é... do Amor que te dei?!...

Se é verdade... como dizes... 
Que o Amor
Passa de coração para coração...

Não vejo o porquê da razão
Nem o sentido... do que lhe fazes...
Quando pela manhã
Tantas vezes... o vejo esquecido

Abandonado... no teu chão!...



Manuel Sepúlveda*

Ao meu corpo te chamo...



Fecho os olhos...em sonhos te chamo ao meu corpo de água
À minha cama de espinhos...aos meus lençóis de amargura
Ao meu sono inquieto...às minhas madrugadas de mágoa
Chamo-te à minha noite vazia...ao meu olhar de ternura

Sou uma pétala a entardecer...uma folha seca de Outono
Nua de mim e despida de ti...sou o que sobrou da ilusão
Uma pálida sombra...um triste sorriso...despido de sonho
Silencioso grito...num corpo de mulher vestido de solidão

Comigo dorme a noite...a noite negra...o vazio dos braços
E o silêncio sufocado...as mãos sem nada e eu sem mim
E o corpo adormecido...e a dor que me prende...os laços
E o tempo que se esvai...neste labirinto onde me perdi

Tenho as asas cansadas...o coração ferido...a boca despida
Os sonhos rasgados...os passos perdidos... o olhar vazio
O azul enegrecido...o céu tão longe e eu de mim esquecida
E os lençóis gelados...a pele sem ti...e a mulher com frio

Entardeci e envelheci...perdida de mim e esquecida de ser
Esperei-te era rosa...fiz-me espinho...mastiguei os cardos
Caminhei pelas pedras...chorei invernos...deixei de querer
Cantei a dor da ternura...soletrei poemas...escrevi dardos

Já abracei tantos sonhos...já escrevi tanta mágoa...já chorei
Despedi-me do amor...amordacei o desejo...parei no tempo
Afundei-me no abismo...voei no infinito...ao céu não cheguei
Fui ao inferno...abraçei as trevas...dancei nua na voz do vento

Escrito por: RosaMaria


Dependente do destino,
Escrevo a vida e o tempo,
Com rubrica de minha alma,

Sou-me dependente das memórias,
Vicio, nicotina de saudade,
De fantasias e histórias,
Cultivadas no pensamento,

Conjugo-me na matéria-essência,
Traço passos livres
No quadrado de meu chão,
Mas sou sempre dependente,
Do Amor e da Emoção,

Sou-me droga ingerida,
Nos planos que fantasio,
Percorro todas as galáxias,
Nesta dependência intrínseca,
De me sentir sonho e viva…

(Cristina Correia)

Inclassificável… Indefinível




Amar-te-ia até os confins da sede e da fome d’esse amor inclassificável que me consome os dias em noites estreladas...

Amei-te no brilho das fases da lua que no firmamento...ainda derrama em charcos o meu desejo...

Amo-te no vagar das horas que se chocam como cometas...estilhaçando porções que de mim desconheço...

Indefinível é a dúvida e o vazio que ventam no íntimo recolhimento...

Frémito a alma por ter sido a sua pele...minhas vestes...

Exposta tristeza em carne viva...da nua ausência...
Sangra...
Percorro esse infinito que me distancia e me aproxima na velocidade da luz...e tudo não passa de um leve piscar...de olhos...

(Valéria Cruz)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A lagrima que se acumula...





A lagrima que se acumula e tolda momentaneamente a vida
é apenas um pétala dessa grande arvore submersa
onde estão tempos, figuras, palavras ditas e ouvidas,
gestos, esforços, renuncias, insônias, misericórdias.


O suspiro é uma brisa paciente que deixa cair tudo isso
ai! que deixa cair tudo isso em grandes vales de silencio.


Outras lagrimas se sucedem, nessas tristes, intermináveis primaveras.
E assim vamos, até a morte, sem esquecimento possível,
e só valemos pela posição que ocupamos nesse fantástico espetáculo.



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)

Tesouro







Sabia da tua existência no basto Universo
Esperava por ti com total compreensão
Acabei por te descobrir pela radiestesia
E de te conquistar pela bondade do verbo.
Da entrega do teu amor abris-te-me o coração
Da tua magnificência arrebanhas-te o meu olhar
Da acendalha intensa do dialogo me cativas-te
Para te amar incondicionalmente com cortesia.
A plenitude da vida está no íntimo do próprio Ser
Mas ao ser alcançada pode ser ainda aumentada.
O belo pode ser sempre mais belo e resplandecente
Ao se ascender a mais brilhante Luz podemos
Sempre fazer-la brilhar da mais variada cor.
No conhecimento e sabedoria nos entregamos
Para a compreensão da vida e do desconhecido
Do Universo ao átomo, averiguamos textos
Para compreender que tudo é Amor.
J.M.²

sábado, 4 de maio de 2013





Flor nascida de entre rochas
A mais guerreira destemida
Enfrenta obstáculos obscuros
Na procura de se germinar.
Dias de luta em perfeita agonia
Luta, luta, pelas suas sementes,
Um dia poderem voar longe
De sua vitoriosa conquista.
De dias tórridos desmaia
Desejando o doce orvalho
Que quase todas as manhãs,
Chega ao seu generoso regaço.
Suas sementes as mais belas
De seu cuidado e amor.
Um dia germinarão também
Guerreiras flores como Ela.
J.M.²




Meu Tesouro, pedra preciosa resplandecente.
Da minha Luz percorrida pelos teus cristais
Transformados ao longo da ancestralidade
Pelo amor suave e persistente da Natureza.

Amo-te desde tempos vivificantes e milenares
Órbitantes em vários Planetas e Estrelas.
Dançando na doce melodia do Magnetismo
Boémio imperceptível aos olhos Humanos
É a sua energia que nos circunda e une.

Na sala das luzes do Universo bailamos
A mais magnetizante e transformadora
Dança da experiência no corpo humano.
O amor que é fruto da polaridade da acção
Do espírito e do fluxo contido no núcleo
Transformador do nosso livre arbitrário.

O vínculo originado é a faísca Divina
Ascendente e incandescente da dupla hélice
Do código carregado pelo nosso Criador
É no bailar do amálgama das experiências
Que ocorre a decifração e transformação
De sentimentos, consciência e do coração.

J.M.²

quinta-feira, 2 de maio de 2013

MAIO



Há sempre uma luz diferente nas manhãs de Maio.
Uma feminina claridade a arder pela manhã.
Muito terna, muito doce. Uma leveza de fragrância
Que envolve os ramos já vestidos de verde.

É sempre infantil este sorriso de seios alvos,
Este doce murmúrio da pele no despertar da rosa.
O esplendor crescendo manhã adentro,
Um crescer de sombra tão pueril no voar dos pássaros.

Apenas o aroma, um só aroma concorre
Com o brilho intenso d´uma orvalhada rosa.

Toda esta imortalidade de Maio me desassossega.

Como foi possível o sacrifício daqueles corpos
Tombados pelo chão, num clamor de justiça?
Como é possível que em Maio se celebre
O sangue fresco derramado pelo chão?
Quando só se deveria exaltar a claridade dos muros
Onde os lagartos expõem o sangue frio da pele,
E os namorados se encostam para selar com os lábios
A jura luminosa de uma lua, vivida na anterior noite!

Maio é assim: tão feminina, tão diáfana no olhar,
Tão sofrida na entrega, na contemplação plena
Das manhãs, em que a claridade nos surpreende,
Trazendo no seio o alvor duma luz perfeita,
Que se entornará até ao crepúsculo de Setembro.

Joaquim Monteiro




Dança comigo,
Solta tuas asas
Embaraça-as nas minhas
E roda comigo
Neste salão
De flores e ar,
De ventos e sonhos,
De prazer e amor

Dança comigo,
Deixa o som
Se entranhar,
Se consumir
Em nosso corpo
Deambular pela alma,
O sopro da melodia
Ser nosso voo
E nossas asas baladas
Por um sem tempo
Ocasos de espaço

Dança comigo
Sem motivo
Não me perguntes porque!?
Não é preciso razão,
Não carece de fundamento
Para dançar…
E a par te amar…

C.C. 


COISA TUA




Guardo-te na imensidão dos meus olhos como se fosses coisa minha, bocadinho de mim, plano que me eleva a uma dimensão que desconheço mas, onde permaneço num azul de lírios e lilases.
Acende-se no ar um perfume novo e tu, eterna navegante deste teu mar, que sou eu, aninhas-te na margem esquerda do meu peito, esquecendo o norte e o sul.
Tudo se centra em nós e até os rios, que correm majestosos, nos seus leitos engalanados de flores silvestres, procurando o mar, soletram as águas de mansinho, para que te possas refrescar e renascer na frescura das manhãs.
És coisa minha e eu, teu humilde servo que, de tanto te amar, me esqueço até de existir para os outros.
Não queiras, nunca, sofrer deste mal que me enfraquece, que me deixa exangue de tanto de amar.
Não quero muito de ti…
Ama-me, apenas, como se também eu fosse coisa tua, 
coisa, simples, sem a qual não possas passar!

Magnólia




(L)eio nos teus olhos, tempestade
(I)mensos campos, rubras flores
(B)eija-te a pele, essa saudade
(E)rgue-se no peito, um mar de dores
(R)ezas, esperançoso, ao teu Deus
(D)eitas-te no leito da recusa
(A)bres os braços à liberdade
(D)anças e ris depois do adeus
(E) emerge, gloriosa, a alma lusa.

Magnólia