quinta-feira, 2 de maio de 2013

MAIO



Há sempre uma luz diferente nas manhãs de Maio.
Uma feminina claridade a arder pela manhã.
Muito terna, muito doce. Uma leveza de fragrância
Que envolve os ramos já vestidos de verde.

É sempre infantil este sorriso de seios alvos,
Este doce murmúrio da pele no despertar da rosa.
O esplendor crescendo manhã adentro,
Um crescer de sombra tão pueril no voar dos pássaros.

Apenas o aroma, um só aroma concorre
Com o brilho intenso d´uma orvalhada rosa.

Toda esta imortalidade de Maio me desassossega.

Como foi possível o sacrifício daqueles corpos
Tombados pelo chão, num clamor de justiça?
Como é possível que em Maio se celebre
O sangue fresco derramado pelo chão?
Quando só se deveria exaltar a claridade dos muros
Onde os lagartos expõem o sangue frio da pele,
E os namorados se encostam para selar com os lábios
A jura luminosa de uma lua, vivida na anterior noite!

Maio é assim: tão feminina, tão diáfana no olhar,
Tão sofrida na entrega, na contemplação plena
Das manhãs, em que a claridade nos surpreende,
Trazendo no seio o alvor duma luz perfeita,
Que se entornará até ao crepúsculo de Setembro.

Joaquim Monteiro

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