domingo, 17 de junho de 2012




Junto à lareira, baloiçavas na cadeira tocada pela voz do tempo. As chamas oscilavam atrevidas e luziam nas franjas do manto onde teu olhar se perdia. Crepitavam memórias frias, feitas lume, na palma das tuas mãos vazias. Meus olhos de menina cresciam em cada página dos teus pensamentos, ainda que não soubesse ler o silêncio, as letras incolores e transparentes das tuas memórias. Dia após dia, num intento de menina teimosa, desafiava a minha vontade...
Naquela noite, entrevi pensamentos teus. Alguns espraiavam-se pela sala, afagavam-me o rosto e eu sorria; outros escondiam-se nas velharias adormecidas nas cómodas tisnadas da pequena sala: numa brincadeira de criança, fingia que não os via... Quando teus olhos tocaram os meus foi o degelo resfriado em lume extenuado. Logo percebi que esses eram pensamentos só teus...
Então, abriguei-me no teu colo. O lume parecia sossegar e entoar melodias filtradas nas frestas do nosso presente. Envolveste-me no teu manto e, nesse momento, no teu olhar luzia a chama mais doce do teu pensamento, uma candura que não se lê no papel. Adormeci como um anjo...
Lá fora, também a lua, no manto da noite, aconchegava o brilho das estrelas até ao reacender da madrugada...

JB 'Em Tons de Azul'
Pintura "Gustav Klimt"

Galeria de Poesia

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