JOSÉ MARIA ALMEIDA, in AMO UM ANJO
Ali, onde as palavras se acabaram
... e as memórias se esgotaram;
Ali, onde o pensamento descansa
nas margens do oceano
e o sol nasce na noite que não acaba;
Ali, onde os meus pés já escorregam para o abismo que se abre,
o cavalo corre de crinas ao vento
e a águia se eleva no azul do céu;
Ali, onde os meus olhos se turvam com as lágrimas do alento
e enfrentam a morte que não chega
sobre as vidas que já morreram
e de novo nasceram nos braços da eternidade;
Ali, naquele ponto exacto do universo
em que a Terra, segura no seu eixo,
dá voltas sem que o tempo passe;
Ali, onde o sangue escorre sobre a terra macia
tocando as raízes das árvores eternas,
onde aqueles que choram são consolados
e os que têm sede em águas puras se saciam
das correntes nascidas das altas montanhas;
Ali, onde a verdade já não é mentira
mas não pode ser dita,
e apenas vivida na penumbra vazia que ilumina a alma;
Ali eu chego, após a longa caminhada,
ajoelho-me, beijo a terra
e descanso entre a erva!
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