EGITO GONÇALVES, in OS DIAS DO AMOR
...
O teu ombro sabe que a sua nudez
é objecto de poema.
Quando lhe tiras o vestido
- pelo ombro -
o teu corpo sabe que as palavras
acorrem
ao arrepio da pele.
E o meu corpo sabe
que as palavras lhe pertencem,
esbarram no desejo,
apresentam a incoerência do delírio
que desce do teu ombro
para a música
do silêncio que fará o poema.
Dedico-te palavras: apenas
marcos de uma intensidade,
uma ligeira pele do que nunca
poderia descrever, da porta
que se abre quando o ombro
se solta do vestido
que desenha no chão
um gemido de amor: o som
da alegria, o seu
visível reflexo que capta
e expande
toda a luz secreta do poema.
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