As palavras do poeta volteiam incessantemente em redor das portas do paraíso e batem implorando a imortalidade. Um grão de poesia basta para perfumar todo um século! O poema é o dedo do poeta apontando para o vôo do pássaro que está além das suas palavras.
terça-feira, 29 de maio de 2012
Paisagem e silencio
(Cecília Meireles)
O hirto cipreste com pássaros escondidos na rama crespa.
A rendada folhagem das sucessivas acácias.
Folhas coloridas, agaves, roseiras descendo entrelaçadas
A encosta pedregosa.
Para onde foram as borboletas que aqui dançaram?
Os telhados muito velhos, ainda com clarabóias.
Escuros vãos de janelas, tão longe que não se avista ninguém.
Coníferas, palmeiras. Tudo imóvel,
a não ser uma fumaça que sobe azuladamente, entre as arvores.
O flanco da montanha, com seus verdes turvos,
com sua pedra riscada por sulcos de água.
Nuvens tempestuosas, grossas nuvens aquosas
crescendo insensivelmente, cinzentas, pardas, lívidas.
São conchas monumentais, balaustradas, zimbórios frágeis.
Montanhas aéreas de opalas foscas.
De repente, duas pequenas asas fugitivas:
- o pombo branco.
Atrás delas, igual a elas, assim clara, alta e rápida,
uma voz de criança a correr.
Depois, entre o olhar e a tarde,
prossegue o silencio.
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