domingo, 1 de janeiro de 2012

 
 
 
MANUEL ALEGRE , in SETE SONETOS E UM QUARTO


Nos teus olhos alguém anda no mar
alguém se afoga e grita por socorro
... e és tu que vais ao fundo devagar
enquanto sobre ti eu quase morro.

E de repente voltas do abismo
e nos teus olhos há um choro riso
teu corpo agora é lava e fogo e sismo
de certo modo já não sou preciso.

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua.

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