terça-feira, 8 de maio de 2012

PÁSSARO




De pássaro a pássaro caía
tudo o que o dia traz,
ia de flauta em flauta o dia,
... ia vestido de verdura
com voos que abriam um túnel,
e por ali passava o vento
por onde as aves cortavam
o ar compacto e azul:
por ali entrava a noite.

No regresso de tantas viagens
fiquei suspenso e verde
entre o sol e geografia:
vi como trabalham as asas,
como se transmite o perfume
por um telégrafo emplumado,
vi das alturas o caminho,
as fontes, as telhas,
os cais de espuma,
tudo isto eu vi do meu céu verde.
Não tinha mais letras
que a viagem das andorinhas,
a água pura e diminuta
do pequeno pássaro ardendo
que baila saindo do pólen.

PABLO NERUDA

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