segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Amor Proibido


Os amores e desafetos de Dom Pedro I e da Marquesa de Santos
Encontradas em um obscuro museu americano, cartas de Dom Pedro I à sua amada Domitila
Fabiana Neves
Numa quente tarde de primavera em um dos bonitos casarões na Rua do Carmo, bem próximo ao Pátio do Colégio, no centro velho de São Paulo, parentes e escravos assistiam os últimos momentos daquela que, há quase meio século tinha vivido o maior caso de amor da História brasileira, o qual também se transformou no escândalo mais escabroso acontecido na corte de um Brasil recém liberto de Portugal. No dia 3 de novembro de 1867, 54 dias antes de completar setenta anos, morria Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos, que passou para a História como a amante (e o único verdadeiro amor) de Dom Pedro I.

O caso entre os dois durou sete anos. Pelos registros históricos, a ligação amorosa começou em 1822, um pouco antes de ser declarada a Independência do Brasil, até 1829 quando Domitila foi banida da corte no Rio de Janeiro, onde morava antes da chegada de Dona Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais (1812 - 1876), princesa de Leuchtenberg e segunda esposa de Dom Pedro I.
Tida como aventureira, adúltera e interesseira, entre outros adjetivos pouco elogiosos ao seu caráter, é bem verdade que Titília, como era chamada pelo Imperador em seus momentos de intimidade, colecionou propriedades, terras, joias, carruagens brasonadas e títulos nobiliárquicos para si mesma e seus parentes. Mas também foi capaz de inúmeros atos nobres, ainda que não tenham sido levados ao conhecimento público pela maioria dos historiadores.

DIM/DPH/SMC/PMSP
Solar da Marquesa de Santos, comprado em 1834
Nem tudo é o que parece
O escritor Paulo Setubal, autor do célebre romance histórico "A Marquesa de Santos", escrito no início do século passado, só trata da vida de Domitila no período em que foi amante do imperador. Ele não conta em seu livro, por exemplo, que ao saber da prisão de seu segundo marido, Tobias de Aguiar, por seu envolvimento na Revolução de 1842, ela pediu por meio de um ofício ao imperador Dom Pedro II permissão para morar junto com o brigadeiro na Fortaleza de Lajes, numa ilha na baia da Guanabara, para cuidar do militar que sofria de problemas renais causados por um quadro avançado de diabetes, conta o pesquisador e historiador Paulo Rezzutti, autor do livro Titília e o Demonão - Cartas Inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos, lançado em 2011 pela Geração Editorial.

Acervo 2D
Dom Pedro I e Dona Leopoldina

"Ela também tinha uma grande consciência política e um orgulho imenso de ser paulista. Em 1827, Domitila doou dinheiro para a causa da Cisplatina e, segundo suas próprias palavras, fez sua doação como "brasileira e paulista". Anos depois, por ocasião da guerra do Paraguai, além de doações em dinheiro, franqueou sua fazenda às margens do Rio Tietê, no Jaraguá, às tropas de voluntários que seguiam para a luta armada com os países vizinhos", relata o escritor. Entusiasta do Partido Liberal, promovia reuniões políticas em seu casarão e participava ativamente das eleições. No fim de sua vida, ela não se esqueceu de seus escravos em seu testamento fazendo doações a alguns e proporcionando a liberdade aos mais chegados. Porém essas facetas de sua personalidade, nunca foram levadas em conta pelos historiadores e biógrafos.

 
A visão histórica sobre a (mal) falada Domitila parece ter uma razão política para existir, sugere Paulo Rezzutti. Muitos anos depois do romance terminado, o caso entre os dois ainda continuava a servir de combustível para os inimigos da monarquia. "A imagem de D. Pedro em particular, e da família imperial em geral, foi bastante deturpada pelos positivistas. A proclamação da República, por exemplo, não foi nada mais do que uma quartelada militar desorganizada que possibilitou a mudança do regime. Na Rússia assassinaram o czar para mostrar que não havia possibilidade de volta ao império. Por aqui, demonizaram a monarquia na tentativa desesperada de justificar o novo regime", explica Rezzutti.
 
Acervo 2DAcervo 2D

    Domitila                                                                                   D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal
 

3 comentários:

  1. Normalmente a história é contada pelos vencedores, que a contam a seu belo prazer.

    Para livros de história, coisa que eu nem me interessava muito, até que tive a felicidade de descobrir um grande historiador, Rainer Daehnhardt, ao ler alguns livros dele mudou totalmente a minha maneira de perceber a história de Portugal e arredores,...

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  2. A história é contada pelos vencedores, que por sua vez a contam a seu belo prazer.

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  3. A história é sempre contada pelos vencedores.
    Há que ter sempre isso em conta e não dar nada como absolutamente certo.
    Como em tudo na vida é preciso ter sempre em conta que existe o outro lado da moeda..!!

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