domingo, 26 de fevereiro de 2012

 
Recordo as imagens.
A tua lembrança é uma queimadura que não dói. Já não dói. A música que fez rodar as nossas tardes está obscuramente calada, a flauta é infeliz, o diabo está dentro dela. Os nossos anjos estão agora num asilo, as suas asas estão molhadas de amargura, a truculenta carne da paixão perdeu o prazo e o sabor. Volto-me para dentro e vejo minúsculas matérias que não se revelaram, não a...conteceram, não chegaram a fluir. Foste brilhante, pura, azul como a aura de uma criança loira. Agora, os teus dedos bailarinos são de metal, são frios, incapazes de comunicar, de se exprimirem na linguagem que ajudou a derrubar todos os impérios: a ternura. Não estou apavorado, só estou triste. E nem preciso que me expliques as razões porque morremos, estando ainda vivos. Como nalgumas estrelas que explodiram há muito, mas que continuamos a registar no mapa do céu. Se me mostrares um caminho, eu seguirei noutra direcção.

Joaquim Pessoa
 

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