terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

«OS LUGARES QUE NÃO MURÁMOS»

ANTÓNIO GIL 
 


Escrevo no escuro a missão destas palavras: procurar-te. Breve mas preciso, o retrato que no horizonte para elas dependuro. Leve, aprendi a desenhar-te: nas volutas da água os aneis de teus cabelos, nas nuvens o teu sorriso, nos reflexos das vitrines ensonadas a tua passageira silhueta, no calcário polido das calçadas, o r...ecorte de tua estreita cintura . Dei-lhes a provar o aroma do teu olhar, a música do teu sorriso, a ondulação do teu ténue respirar, fiz-lhes notar teu perfil inconfundível, tua forma dançarina de andar, a modulação de tua voz quase inaudível. Comunico-lhes tudo o que de ti sei, para que saibam que buscam apenas uma parte de nós. Quando por fim delas me despeço, ainda uma última vez lhes peço que não te cerquem, não te delimitem, mas te envolvam, como asas protectoras, auras que não ceguem mas antes iluminem sua fonte sedutora. Vejo-as partir como aves migrantes, em tua busca, algumas em bandos, outras solitárias e aceno-lhes, até só ver no firmamento pontos tão distantes como estrelas ...
Afastam-se, e até desaparecerem, mais abandonado que nunca, fico a vê-las...

Sem comentários:

Enviar um comentário