quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O PRAZER URGENTE

JOÃO MORGADO (Excerto do novo romance )


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Adoro o teu sabor; adoro o teu cheiro. É um cheiro fresco como a erva molhada onde estamos os dois a beber o prazer urgente que nos assaltou. Era inadiável este amor de carne, aqui e agora, à beira dos amores-perfeitos, das petúnias, das rendas íntimas da tua roupa já despida na erva molhada - como tu. E a minha boca desesperadamente a beber a tua, e os meus dedos felizes nas mãos embriagadas pela tua pele, enquanto me despes - te atrapalhas com o cinto, com os botões das calças, mas me despes -, senhora de ti e do que queres, e me agarras à mão cheia o inflamado íntimo do meu desejo e me puxas para ti, para dentro de ti, para o mais fundo de ti, o fundo bem fundo de ti, onde o corpo não se acaba e o teu lume se acende e me abrasa; os teus lábios a bordar suspiros nos meus ouvidos, os teus braços a medir forças nas minhas costas, as tuas pernas como tesouras nas minhas ancas e eu, repetidamente dentro de ti, a costurar o prazer de te amar o corpo. Ainda tenho flores a rebentar dentro de mim, olha-me, vê as flores de fogo a assomar aos meus olhos. Vê como rebentam flores dentro de mim - o fogo, a luz, as cores. Vê como todo o meu corpo está aceso nos suspiros que bordas nos meus ouvidos. E eis que me abandona a uma última vaga de mar, espuma branca, e chega a grande explosão, a flor maior derramada em mil cores no teu ventre, e o teu suspiro bordado a ponto cruz no meu suspiro, um intenso suspiro a dois e um silêncio ofegante, transpirado, apaziguador…

Emília… ouve agora o silêncio dos corpos saciados, escorregadios, regados de carícias na noite, agora que a luz se apagou de novo no poste e escondeu esta nesga de jardim molhado onde os nossos corpos, molhados, fazem companhia aos amores-perfeitos, às petúnias, às flores de renda da tua roupa íntima caída na relva. E o ar da noite gela os nossos corpos semi-nus por fora, mas que ardem em nudez completa por dentro. Veste-te, Emília, eu ajudo-te com a roupa em silêncio, e tu ajudas a vestir-me também, para depois tão rapidamente nos despirmos e nos amarmos na calçada, primeiro nas pedras brancas e depois nas pedras pretas e assim sucessivamente, assim sucessivamente até chegarmos a casa, onde nos amaremos de novo.

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