sábado, 11 de fevereiro de 2012

OS LUGARES QUE NÃO MURÁMOS

ANTÓNIO GIL 
 


Sarça que nunca se consome, a palavra que diante de nós arde foi concebida para iluminar os mais obscuros recantos do silêncio, para emprestar aura multicolor às coisas que nos deixam insones e cujo nome às vezes quase em transe pronunciamos: teus lábios aquecem-me quando dizes fogo, como se soprasses a palavra e logo de luz, qua...se sem te dares conta, vestisses a flor doravante acesa. O mesmo efeito quando enches o peito para dizer luz : logo um lago cristalino se inflama sob o sol. E se de súbito disseres sol , desse simples som nascido no meio do teu sorriso, ofuscam-se as noites futuras e detém-se o frio que ainda não nos visitou...

Ensina-me a dizer a palavra lar, como só tu sabes, para que nunca mais o uivo do vento nos colha desabrigados.
E repete então a palavra amor, amor, para que a solidão não volte a farejar o trilho dos nossos passos no extenso areal...

Sem comentários:

Enviar um comentário