JOAQUIM PESSOA, in PORTUGUÊS SUAVE
DOS PÁSSAROS E DOS HOMENS
De pássaros não sei nada.
... Também Sócrates diria que dos pássaros nada soube.
Porque um poeta é um filósofo. E um filósofo
é sempre um poeta.
E um poeta não deve saber dos pássaros
mas dos homens.
Eu confesso: de pássaros nada sei.
Sei dos homens. Mas pouco.
Por isso os estudo. Falo deles. Amo-os ou odeio-os.
Aliás, entre os homens raramente há sentimentos intermédios
como a indiferença, por exemplo.
Não consta que os pássaros os conheçam.
Os homens são muito importantes para um poeta.
Tão importantes como as palavras.
Direi mesmo mais importantes.
Porque não poderão existir palavras e poetas sem homens
mas os homens já existiam sem palavras e sem poetas.
E mesmo as palavras e a poesia sem homens não serviriam para nada.
Portanto temos
primeiro o homem
depois a palavra
e por fim o poeta.
Na poesia, é pois, fundamental, o homem.
Sendo assim, é natural que eu fale dos homens
e me recuse a falar dos pássaros
porque, também, para falar de um assunto
é preciso estudá-lo
conhecê-lo
e, como eu já disse, de pássaros não sei nada
prefiro falar dos homens embora deles não saiba tudo
mas vou analisando-os
tentando conhecê-los melhor
em vez de analisar e tentar conhecer os pássaros
porque me parece
não poder haver uma relação por aí além
entre o pássaro e o homem
nem os pássaros poderão resolver os problemas dos homens
(habitação, ensino, desemprego, etc.)
num um homem só que seja pode ser explorado
por um ou mais pássaros
nem os os pássaros fizeram explodir nunca uma bomba atómica
ou se juntaram em bandos para discutir
se hão-de construir centrais nucleares para matar alguns homens
em benefício de qualquer pássaro
ou ainda para conferenciar sobre a bomba de neutrões
que pode ao mesmo tempo matar os pássaros e todos os homens.
Por todas estas razões proponho que
a poesia fale do homem para o homem
porque:
a) falando dos pássaros a poesia fala só dos pássaros;
b) falando dos homens, a poesia fala de tudo
(até dos pássaros);
c) os pássaros nunca poderão entender a poesia nem os poetas nem os outros homens;
d) a poesia falando dos homens fará com que os homens possam entendê-la e entender não só os poetas como também os pássaros e, sobretudo, o que é fundamental, entenderem-se entre si o mais depressa possível.
DOS PÁSSAROS E DOS HOMENS
De pássaros não sei nada.
... Também Sócrates diria que dos pássaros nada soube.
Porque um poeta é um filósofo. E um filósofo
é sempre um poeta.
E um poeta não deve saber dos pássaros
mas dos homens.
Eu confesso: de pássaros nada sei.
Sei dos homens. Mas pouco.
Por isso os estudo. Falo deles. Amo-os ou odeio-os.
Aliás, entre os homens raramente há sentimentos intermédios
como a indiferença, por exemplo.
Não consta que os pássaros os conheçam.
Os homens são muito importantes para um poeta.
Tão importantes como as palavras.
Direi mesmo mais importantes.
Porque não poderão existir palavras e poetas sem homens
mas os homens já existiam sem palavras e sem poetas.
E mesmo as palavras e a poesia sem homens não serviriam para nada.
Portanto temos
primeiro o homem
depois a palavra
e por fim o poeta.
Na poesia, é pois, fundamental, o homem.
Sendo assim, é natural que eu fale dos homens
e me recuse a falar dos pássaros
porque, também, para falar de um assunto
é preciso estudá-lo
conhecê-lo
e, como eu já disse, de pássaros não sei nada
prefiro falar dos homens embora deles não saiba tudo
mas vou analisando-os
tentando conhecê-los melhor
em vez de analisar e tentar conhecer os pássaros
porque me parece
não poder haver uma relação por aí além
entre o pássaro e o homem
nem os pássaros poderão resolver os problemas dos homens
(habitação, ensino, desemprego, etc.)
num um homem só que seja pode ser explorado
por um ou mais pássaros
nem os os pássaros fizeram explodir nunca uma bomba atómica
ou se juntaram em bandos para discutir
se hão-de construir centrais nucleares para matar alguns homens
em benefício de qualquer pássaro
ou ainda para conferenciar sobre a bomba de neutrões
que pode ao mesmo tempo matar os pássaros e todos os homens.
Por todas estas razões proponho que
a poesia fale do homem para o homem
porque:
a) falando dos pássaros a poesia fala só dos pássaros;
b) falando dos homens, a poesia fala de tudo
(até dos pássaros);
c) os pássaros nunca poderão entender a poesia nem os poetas nem os outros homens;
d) a poesia falando dos homens fará com que os homens possam entendê-la e entender não só os poetas como também os pássaros e, sobretudo, o que é fundamental, entenderem-se entre si o mais depressa possível.
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