segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

LIVRO.


JOSÉ BERNARDES

Um dia alimentando-me de fogo
e de maçãs colhidas na floresta ardente da fantasia
arrastei-me pelas cinzas da noite
... e criei um ser cinzelando o perpétuo amanhã
nas emergentes auroras vermelhas
E soprei-lhe vida
com aragens frescas
com memórias de destinos luminosos
com mundos brilhantes banhados de múltiplos sóis
com bolas rocas e histórias tão frescas
como poesia acabada de inventar
Dei-lhe à boca todos os sabores do mundo
Vesti-o loucamente de todas as cores e tamanhos
E cresceu
Foi crescendo em mim a ideia de um ser
tão completo
que poderia tocar a mais gloriosa das sinfonias
tão só como um louco maestro abandonado no deserto
Era um ser novo tão velho como o mundo
na infinita sabedoria da ciencia exata das coisas
capaz de ordenar alfabéticamente os pássaros
que volteavam constantemente pelo seu pensamento
ou até ordenar cronologicamente peixes e demais objectos
numa árvore geneológica com raiz no principio dos tempos
Exaltei-o a saltar de mão em mão
enloquecendo ternamente a paisagem humana circundante
dando vida às pedras rolando-as na corrente de frescos rios
amadurecendo a vida que por tanta inércia
se deixa desleixada cegar subalimentada de sonho
E libertei-o na esteira das marés futuras
dando liberdade às aves canoras da memória
ousando usar como traje um léxico antigo como a mão
que lhe soprou vida e lhe deu o primeiro impulso
permitindo que navegue por todos os portos pensantes
São páginas e páginas infindáveis
de paisagens sonoras para colorir com a imaginação
que serão acabadas de desfolhar pelo fim dos tempos. Livro.

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