As palavras do poeta volteiam incessantemente em redor das portas do paraíso e batem implorando a imortalidade. Um grão de poesia basta para perfumar todo um século! O poema é o dedo do poeta apontando para o vôo do pássaro que está além das suas palavras.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade
ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda.
E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando.
É porque sempre tento chegar pelo meu modo.
É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu queria amar o
que eu amaria - e não o que é. É também porque eu me ofendo a toa.
É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.
É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia
se eu também queria o rato para mim. Talvez eu me ache delicada demais
apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes,
eu me acho de amor inocente.
(Clarice Lispector)
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