sexta-feira, 20 de julho de 2012

Poema 36





Joaquim Pessoa 


Que nome dar a dois pontos que se encontram

senão um ponto apenas? Como chamar a duas linhas

que unem os extremos senão uma única linha?

Duas gotas de água que se juntam não são uma só gota?

Não serão os oceanos apenas nomes para um único nome: mar?

Todos os continentes são a terra.

Todos os passos, o andar.

Todas as palavras são a fala.

Todas as folhas, o livro.

Quando o mesmo se une, cumpre-se.

Tem o mesmo sentido, a mesma matéria, o mesmo nome.

É uno. Único. Diverso, apenas esse modo de tocar

uma única boca.

Como hei-de chamar-te agora?

Teu nome é plural. Plural é o meu nome.

Só o amor que os une é singular.


in À MESA DO AMOR, Litexa, 1994

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