sexta-feira, 6 de julho de 2012

Canção na Plenitude




Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força -- que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés -- mesmo se fogem -- retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.



Lya Luft 

2 comentários:

  1. O encanto que o amor tem, é ver continuamente, com o mesmo olhar de sempre, a beleza constante e adolescente da sua sereia de sonho, a menina impar que para a eternidade jurou Amar.
    Quando o amor se mantém, a cumplicidade, a amizade e até mesmo a força de remar contra algumas marés, sustentam a alegria de encontrar o rumo certo e o caminho perseverantemente idealizado em direcção à plenitude da felicidade.
    Um enorme beijo Luísa.

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  2. Amar o outro pelo que tem no seu interior, muito para além do exterior...
    A amizade, cumplicidade o amar com a alma, são os alicerces para o tal caminho em direcção à plenitude da felicidade!

    Só quem ama na plenitude sem medo de perder a alma, poderá dizer que verdadeiramente amou!

    Um beijo Rui

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