As palavras do poeta volteiam incessantemente em redor das portas do paraíso e batem implorando a imortalidade. Um grão de poesia basta para perfumar todo um século! O poema é o dedo do poeta apontando para o vôo do pássaro que está além das suas palavras.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
"O jardim tem aquele cheiro a relva que nos seduz e nos lembra os jogos de bola e os namoros de adolescência. Encontrei-a sentada no banco de madeira, iluminada pelo tremeluzir de luzes que vinham dos altos - raios de sol que se esgueiravam pelo entrelaçado das copas das árvores. Lia o livro. Sentei-me a seu lado com um sorriso. Será que está mesmo a ler, perguntei-me. Como que em jeito de resposta, ela apontou para uma das páginas e passou os dedos por uma frase: «…uma gaivota é uma ideia ilimitada de liberdade». Será que ela já entende os conceitos de liberdade? - «… e todo o vosso corpo, desde a ponta de uma asa até à outra, não é mais que o vosso próprio pensamento», sublinhou com o dedo. Creio que entende. A sua parte racional recomeça a funcionar, resta-lhe agora resgatar as emoções. Esta certeza fez assomar uma lágrima no canto dos meus olhos, dei-lhe um beijo na testa e sussurrei para ela:
«És a minha Gaivota!» Ela olhou para mim, limpou-me a lágrima com a ponta dos dedos, mas manteve o rosto sereno, sem expressar emoções. «Agora és a minha Gaivota! Vais aprender a voar de novo!», repeti, e dei-lhe a minha maçã."
João Morgado
Excerto de Diário dos Imperfeitos (a publicar)
* PRÉMIO LITERÁRIO VIRGÍLIO FERREIRA 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário