segunda-feira, 2 de julho de 2012

Rosa Pálida




Rosa pálida, em meu seio 
Vem querida, sem receio 
esconder a aflita cor. 
Ai! a minha pobre rosa! 
Cuida que é menos formosa 
Porque desbotou de amor. 

Pois sim... quando livre, ao vento, 
Solta da alma e pensamento, 
Forte de sua isenção. 
Tinhas na folha incendiada 
O sangue, o calor e a vida 
Que ora tens no coração. 

Mas não era, não, mais bela, 
Coitada, coitada dela, 
A minha rosa gentil! 
Curvavam-na então desejos, 
Desmaiam-na agora os beijos... 
Vales mais mil vezes, mil. 

Inveja das outras flores! 
Inveja de quê, amores? 
Tu, que vieste dos céus, 
Comparar tua beleza 
Às folhas da natureza! 
Rosa, não tentes a Deus. 

É vergonha... de quê, vida? 
Vergonha de ser querida, 
Vergonha de ser feliz! 
Porquê? Porquê em teu semblante 
A pálida cor da amante 
A minha ventura diz? 

Pois, quando eras tão vermelha 
Não vinha zangão e abelha 
Em torno de ti zumbir? 
Não ouvias entre as flores 
Histórias de mil amores 
Que não tinhas, repetir? 

Que hão-de eles dizer agora? 
Que pendente e de quem chora 
É o teu lânguido olhar? 
Que a tez fina e delicada 
Foi de ser muito beijada, 
Que te veio a desbotar? 

deixa-os: pálida ou corada, 
Que isenta ou namorada, 
Que brilhe no prado flor, 
Que fulja no céu estrela, 
Ainda é ditosa e bela 
Se lhe dão só um amor. 


Almeida Garrett

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